Dor

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A dor sempre foi algo importante dentro de diversas sociedades no decorrer dos séculos, e isso pode ser observado em variados rituais de algumas tribos em que a iniciação à vida adulta esta relacionado a algum estímulo doloroso, variando desde a perfurações pelo corpo à ataque de insetos diversos.


Espécie de luva contendo formigas onde a mão é colocada para iniciação indígena
Fonte da imagem: http://melhordamidia.blogspot.com/2010/08/ritual-das-formigas-tucandeiras-para.html



Apesar de ser sinônimo de honra em determinadas situações, a palavra dor sempre foi a causa de medo para o homem, pois a dor nada mais é que a resposta do corpo a algo incomum (na maioria das vezes), que não devia estar acontecendo. A dor pode ser causada por diversos tipos de estímulos internos (bradicinina, serotonina, histamina, etc) e externos (lesões, temperaturas altas, etc), e conseqüentemente a chance de iniciar uma resposta dolorosa é enorme. Essa grande porcentagem de chance de sentir dor e o medo desse estímulo pode ser percebido na gama de medicamentos hoje oferecidos pelas industrias farmacêuticas como os analgesicos, anti-histamínicos, AINES, etc.


É indiscutível o fato da dor ser importante em algumas sociedades e em outras apenas um alerta de uma não homeostasia do organismo. Sempre percebi nas pessoas uma certa fraqueza à respostas dolorosas e paulatinamente fui indagando se essa fraqueza era algo real ou apenas uma conseqüência de uma analgesia prolongada. O ser humano tem uma capacidade incrível de se adaptar a tudo, desde áreas sentimentais a físicas, como por exemplo, pessoas que vivem em determinados ambientes quase inabitáveis ou que suportam situações diárias extremas. Essa capacidade é percebida também em respostas dolorosas, e isso pode ser observado em pessoas com determinadas doenças crônicas em que o principal sintoma é a dor, em contraste com alguém livre de dores diárias. Pessoas portadoras de patologias crônicas tendem a suportar uma dor maior, porém suportar não é sinal de que a dor se tornou menor, e esse é um dos pontos que gera na sociedade um preconceito encoberto.

O preconceito à dor existe, e é esse um dos maiores rivais de doenças crônicas, mais especificamente das Artrites. Atualmente a sociedade julga como um alguém doente aquele que está aparentemente doente, e isso traz ao portador de Artrite uma certa dificuldade de se inserir nas diversas áreas sociais. Um exemplo desse preconceito está expresso na dificuldade de se conseguir emprego, pois a maior parte das empresas oferecem vagas apenas a deficiências aparentes, e esquecem que a dor também é incapacitante, a ponto de todas as sociedades, em diversas épocas e provavelmente futuramente, buscarem evitar esse estímulo.

A conseqüência dessa não inserção social é a reclusão ao lar, e isso vai gerar no portador de artrite reumatóide problemas psicológicos diversos, e concomitantemente a Lei do Uso e Desuso vai se refletir em seu corpo, piorando ainda mais seu estado podendo ter como resultado uma potencialidade de deformações físicas, agindo novamente sob o seu psicológico e iniciando um emaranhado de problemas.

É necessário então, a inclusão social do portador de artrites, e não somente dele, mas também dos portadores de qualquer doença crônica incapacitante pela dor, pois esses estados patológicos tendem a causar degenerações psico-físicas, e essas degenerações são imutáveis, tornando-se parte do paciente.

Mauricélio G.S

Incertezas

sábado, 28 de janeiro de 2012


Fonte imagem: http://delonplanet.blogspot.com/2010/12/certeza-do-incerto.html


Achei necessário escrever esse post, pois creio que as mesmas dúvidas que tenho são as dúvidas da maior parte dos portadores de doenças reumáticas. Um estado de patologia deve ser avaliado não somente pela doença em si, mas pelos diversos fatores que estão relacionados a esse problema como moradia, condição social, financeiro, gênero, etc. Todos esses fatores são conhecidos como DSS (Determinante Sociais de Saúde), e são responsáveis pelo bem estar de uma sociedade.

Logo, podemos analisar que apesar das doenças reumáticas terem um impacto comum em maior parte das pessoas com esse estado patológico, esse grau poderá variar de indivíduo para indivíduo, pois os DSS em indivíduos com doenças crônicas tendem a no mínimo diminuir suas dores psicológicas levando-o a uma melhor qualidade de vida, sendo que, o oposto também poderá acontecer, levando a uma piora do seu quadro. Analisamos a partir daí que nem todo paciente de doenças reumáticas serão parecidos em seu modo de pensar e agir devido a diversos fatores internos (genética, outras doenças, psicológico, etc) e externos (meio em que vive, amigos, saneamento, etc) que influenciarão e sua melhora ou piora.

Um dos fatores fortes que é interessante citar é o gênero (Feminino e masculino), pois a Artrite Reumatóide, em sua maior parte, está presente em mulheres, logo, podemos generalizar de certa forma as reações desses indivíduos à doença, não esquecendo que existem outros determinantes que também podem ter influencia sobre seu estado patológico.

Apesar do fato de ser homem também portador, percebi que grande parte de minhas dúvidas e dores são idênticas a todos os outros portadores que são mulheres. É certo que o peso da doença sobre cada gênero muda devido a questões sexuais, pois a doença causa incapacidades e essas incapacidades parecem ter um impacto diferente no homem. Um homem, por exemplo, que sente dores intensas pode se abalar por se sentir incapaz de manter uma família, e uma mulher pode se sentir incapaz de ser uma mulher “normal” para um homem.

Existe um ponto em comum em qualquer portador de doenças reumáticas, que é um psicológico instável. Não importa seu grau de satisfação, o psicológico em algum momento sempre varia entre saudável e doente, mesmo que por períodos ínfimos de tempo. O interessante é que todos os pensamentos são tão ligados um ao outro que as pessoas com essa enfermidade parecem ser uma só.

Percebi medo do futuro, de não conseguir construir uma família; medo de não conseguir manter uma família financeiramente ou até mesmo devido as limitações; dúvidas relativas a gravidez, medo de não conseguir estabilizar-se economicamente, etc. O interessante é que o medo maior vem não necessariamente da artrite, mas de suas causas externas, do que ela pode fazer com o indivíduo socialmente. É lógico que ninguém quer adoecer, mas seu impacto social é tão imenso que seu impacto patológico se encobre.

Parece que a artrite reumatóide é uma doença de ação fisiológica, porém de acometimento psicológico. Logo posso dizer que uma saúde mental boa é um bom passo não para a cura, mas para uma melhora geral de doenças reumáticas, lembrando que o psicológico também tem ação fisiológica (mais especificamente ligado ao sistema imune), e que a artrite está intimamente associada a esse sistema. Concluímos então que tratar de doenças reumáticas vai além de tratar do corpo, mas também da mente, e isso não é papel somente do portador, mas do meio e da sociedade em que vive, sendo importante o papel da família, parentes e amigos.


Mauricélio G.S

Super-herói existe sim

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012




Já sonhei ser um Herói,
Com armadura de metal,
Com um escudo bem brilhante,
E uma asa angelical.

Eu voava onde queria,
Almoçava no Japão,
Descansava no Hawaii,
E morava em Salomão.

Era forte como um touro,
Ágil como leão,
Esperto como uma águia,
Majestoso como um pavão.

Protegia as crianças,
De lobo-mal, bicho-papão,
Saci-Pererê, fantasma e monstros,
E de bandidos sem coração.

Só que o homem me falou,
Que super-homens não existem,
Só que eles não entendem,
Que herói existe sim,
Basta eles perceberem,
Como luto a cada dia,
Contra toda essa dor,
Que mora dentro de mim.